segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Simba

Sempre fui daquelas pessoas que achava ridículo ver outras pessoas chorar pelo falecimento do seu animal de estimação. Que coisa mais estranha? Se fosse pelo vizinho não choravam, agora chora pelo animal. Pelo amor de Deus, o vizinho é humano o animal, um animal, porquê de tanto sofrimento?
Mas a verdade é que nunca tinha tido um animal de estimação, muito menos tinha passado por essa experiência. Como tal era impossível ser capaz de perceber essas pessoas.

Há uns 3 anos estava de férias e encontramos uma gata com 3 semanas de vida. Provavelmente teria sido abandonada pela sua mãe, porque não vimos outros gatos na zona, e foi andado até um poiso que tinha achado seguro. Com a premissa de não querermos animais de estimação, porque é chato, tentamos fazer com que alguém ficasse com a gata. O tempo passou e chegámos ao final das férias sem ninguém ter querido a gata, deste modo fomos “obrigados” a ficar com ela. E assim começa a nossa história com a Simba (o nome não é muito criativo, mas foi o que a madrinha lhe deu).

Veio para casa e não era, nem nunca foi, uma gata muito afável, muitas vezes fugiu aos donos e aos mimos que lhe queríamos dar. Pela nossa mente muitas vezes passou pela cabeça que não gostava de nós, mas depressa ela compensava indo para o meu colo quando estudava, quando vinha ter comigo quando acordava e em tantas outras situações.

Há um mês que a minha gata praticamente deixou de comer e beber, sendo que a única explicação que encontramos foi o facto de eu e o meu irmão já não estávamos em casa durante a semana. E hoje, devido à sua depressão (sim é verdade os gatos têm depressões) a gata faleceu. Percebi muitas coisas hoje, 1- que a gata sempre reconheceu o que nós tínhamos feito e sempre gostou de nós; 2- hoje sou uma daquelas pessoas que não compreendia há 24h atrás.

A verdade é que o vizinho é um humano, sim , sem qualquer dúvida, mas apenas partilhamos um espaço físico e não um espaço emocional em que se trocam coisas que são impossíveis de explicar.... Uma gargalhada dada porque a gata estava no sítio mais improvável, o gosto que era fazer-lhe festinhas ou chegar a casa e vê-la, entre tantas outras coisas que irão sempre ser nossas. 

Em suma, estou a sentir um turbilhão de sentimentos neste momento, como devem imaginar. Sem dar por mim, as lágrimas correm-me e sinto coisas antagónicas, por um lado apetece-me rir com o ridículo e ironia da situação, por outro sinto-me mesmo triste e com falta da minha gatinha. E com isto volto a aprender do ridículo que é apontar o dedo a alguém ou a qualquer atitude. Ninguém está imune às críticas que se fazemos deliberadamente aos outros. A aceitação e tentativa de compreensão é algo muito humano, generoso e adulto. Porque nós só percebemos aquilo que nós vivemos, todo o resto podemos tentar perceber e compreender, mas a verdade é que tais sentimentos empáticos são um mistério, como o fim do arco-íris que nunca conseguiremos alcançar.  


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