Sempre fui daquelas pessoas que achava ridículo ver outras
pessoas chorar pelo falecimento do seu animal de estimação. Que coisa mais
estranha? Se fosse pelo vizinho não choravam, agora chora pelo animal. Pelo
amor de Deus, o vizinho é humano o animal, um animal, porquê de tanto
sofrimento?
Mas a verdade é que nunca tinha tido um animal de estimação,
muito menos tinha passado por essa experiência. Como tal era impossível ser
capaz de perceber essas pessoas.
Há uns 3 anos estava de férias e encontramos uma gata com 3
semanas de vida. Provavelmente teria sido abandonada pela sua mãe, porque não
vimos outros gatos na zona, e foi andado até um poiso que tinha achado seguro. Com
a premissa de não querermos animais de estimação, porque é chato, tentamos
fazer com que alguém ficasse com a gata. O tempo passou e chegámos ao final das
férias sem ninguém ter querido a gata, deste modo fomos “obrigados” a ficar com
ela. E assim começa a nossa história com a Simba (o nome não é muito criativo,
mas foi o que a madrinha lhe deu).
Veio para casa e não era, nem nunca foi, uma gata muito
afável, muitas vezes fugiu aos donos e aos mimos que lhe queríamos dar. Pela nossa
mente muitas vezes passou pela cabeça que não gostava de nós, mas depressa ela
compensava indo para o meu colo quando estudava, quando vinha ter comigo quando
acordava e em tantas outras situações.
Há um mês que a minha gata praticamente deixou de comer e
beber, sendo que a única explicação que encontramos foi o facto de eu e o meu
irmão já não estávamos em casa durante a semana. E hoje, devido à sua depressão
(sim é verdade os gatos têm depressões) a gata faleceu. Percebi muitas coisas
hoje, 1- que a gata sempre reconheceu o que nós tínhamos feito e sempre gostou
de nós; 2- hoje sou uma daquelas pessoas que não compreendia há 24h atrás.
A verdade é que o vizinho é um humano, sim , sem qualquer dúvida, mas apenas partilhamos um espaço físico e não um espaço emocional em que se trocam coisas que são impossíveis de explicar.... Uma gargalhada dada porque a gata estava no sítio mais improvável, o gosto que era fazer-lhe festinhas ou chegar a casa e vê-la, entre tantas outras coisas que irão sempre ser nossas.
Em suma, estou a sentir um turbilhão de sentimentos neste momento,
como devem imaginar. Sem dar por mim, as lágrimas correm-me e sinto coisas
antagónicas, por um lado apetece-me rir com o ridículo e ironia da situação, por
outro sinto-me mesmo triste e com falta da minha gatinha. E com isto volto a
aprender do ridículo que é apontar o dedo a alguém ou a qualquer atitude.
Ninguém está imune às críticas que se fazemos deliberadamente aos outros. A
aceitação e tentativa de compreensão é algo muito humano, generoso e adulto.
Porque nós só percebemos aquilo que nós vivemos, todo o resto podemos tentar
perceber e compreender, mas a verdade é que tais sentimentos empáticos são um
mistério, como o fim do arco-íris que nunca conseguiremos alcançar.
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